domingo, 9 de março de 2014

Reflexões acerca da Educação Escolar de Pessoas Surdas na perspectiva Inclusiva

Reflexões acerca da Educação Escolar de Pessoas com Surdez na perspectiva Inclusiva
                                                                                           Ivonete Sousa de Moraes 
                  Segundo a literatura, historicamente a educação formal das pessoas com surdez tem sido pauta de discussões no cenário das políticas públicas, das pesquisas científicas e das ações pedagógicas, cujas vertentes se fundamentaram em três abordagens: a oralista (uso da voz e da leitura labial como única possibilidade linguística); a comunicação total (uso de todo e qualquer recurso para a comunicação, considerando as interações sociais, os aspectos cognitivos, linguísticos e afetivos dos alunos), e, por último, a abordagem bilíngue (utilização da língua de sinais e da língua da comunidade ouvinte).
                  A desperto dessas discussões e lutas históricas aliadas ao avanço do conhecimento em todas as áreas, bem como de importantes conquistas, sobretudo do ponto de vista legal, é possível perceber, ainda, nas atitudes da sociedade, rigidez quanto aos padrões de normalidade e resistência em romper com uma cultura tradicionalmente pouco acolhedora à diversidade. Com relação à educação da pessoa com deficiência, ainda se constitui um grande desafio a ser enfrentado pela escola brasileira, cujas práticas pedagógicas, ainda são pautadas na lógica de agrupar os alunos conforme seus perfis sociais, cognitivos e comportamentais.
                  Reconhecendo a necessidade de transformar esse modelo conservador e de buscar mecanismos para que o princípio “Educação para todos” não se restrinja ao ato de matricular alunos, o MEC em articulação com outras políticas, institui a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, cujo objetivo é garantir o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência. Uma das inovações trazidas pela referida Política é o Atendimento Educacional Especializado - AEE, um serviço que “[...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, conforme suas necessidades específicas” (MEC/SEESP, 2008).
                  Ao fazer menção à educação da pessoa com surdez, na perspectiva inclusiva, a proposta defendida pela Política é a abordagem Bilíngue (LIBRAS e Língua Portuguesa) e que o acesso às duas línguas deve ocorrer simultaneamente no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo educativo.
  
Na perspectiva inclusiva da educação de pessoas com surdez, o bilinguismo que se propõe é aquele que destaca a liberdade de o aluno se expressar em uma ou outra língua e de participar de um ambiente escolar que desafie seu pensamento e exercite sua capacidade perceptivo-cognitiva, suas habilidade para atuar e interagir em um mundo social que é de todos, considerando o contraditório, o ambíguo, as diferenças entre as pessoas. (MEC/SEESP, 2008).

                    O Atendimento Educacional Especializado para pessoas com surdez, na perspectiva inclusiva, conforme DAMÁZIO, estabelece como ponto de partida a compreensão e o reconhecimento do potencial e das capacidades com vistas seu pleno desenvolvimento e aprendizagem, observando os dispositivos legais que preconizam o direito à educação bilíngue e que LIBRAS e Língua Portuguesa escrita se constituam línguas de instrução no desenvolvimento de todo processo pedagógico.
                   Ainda, conforme a autora, o AEE envolve três momentos didático-pedagógicos, quais sejam:
·         Atendimento Educacional Especializado EM LIBRAS: ocorre diariamente,        em horário contrário ao da sala comum. Nesse atendimento, o professor acompanha o plano de conteúdo oficial da escola de acordo com a série ou ciclo que o aluno está cursando.

·         Atendimento Educacional Especializado para o ensino DE LIBRAS: esse trabalho é realizado pelo professor e/ou instrutor de libras (preferencialmente, por profissionais com surdez), conforme estágio de desenvolvimento da língua de sinais em que o aluno se encontra.

·         Atendimento Educacional Especializado para o ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: esse atendimento acontece no contraturno ao da sala de aula comum. Todo o ensino é desenvolvido por uma professor(a), preferencialmente, formado em Letras e que conheça os pressupostos linguísticos e teóricos que norteiam o trabalho do ensino da Língua Portuguesa escrita para pessoas com surdez.

                 Refletir o processo educacional da pessoa com surdez à luz da inclusão é imprescindível porque a educação para todos e de qualidade só é possível quando todos os segmentos envolvidos discutem, analisam, propõem e executam ações concretas capazes de modificar mentalidades e promover cidadania.







Referências Bibliográficas
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Secretaria da Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 2008.
DAMÁZIO, M. F. M. Concepções Subjacentes: Educação das Pessoas com Surdez, 2005.
DAMÁZIO, M. F. M; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez -Atendimento Educacional Especializado em Construção.
                



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